Mais de uma dúzia de juízes de imigração foram demitidos nas últimas semanas, incluindo pelo menos dois de Massachusetts. Um deles, George Pappas, afirmou que sua demissão faz parte de uma tendência preocupante que ameaça a independência dos tribunais de imigração do país.

“Fui instruído a decidir de determinada maneira, o que viola minha neutralidade judicial”, disse Pappas, que até terça-feira atuava como juiz no Tribunal de Imigração de Chelmsford.

Pappas estava perto do fim de seu período probatório de dois anos quando recebeu uma carta informando que havia sido dispensado, sem explicação. Ele é um dos 17 juízes em todo o país que foram recentemente demitidos e acredita que a decisão teve motivação política.

Ele afirma que a administração Trump está por trás do que descreve como uma “limpeza” de juízes de imigração que não se alinham às suas políticas.

“O procurador-geral e a administração estão mirando os tribunais de imigração”, disse ele. “Eles querem destruí-los ou, se não conseguirem, transformar esses tribunais em órgãos compostos por, sim, asseclas políticos que chamam de juízes.”

No início do ano, havia aproximadamente 700 juízes de imigração em todo o país. Desde então, mais de um sexto deles renunciou ou foi demitido.

Em Chelmsford, o número de juízes de imigração caiu de 18 para apenas 7 nos últimos seis meses — em meio a um acúmulo de mais de 3,5 milhões de casos.

Kerry Doyle, outra juíza de imigração recentemente demitida, disse que foi dispensada após apenas dois meses no cargo.

“Cheguei à conclusão de que eles realmente querem levar os tribunais de imigração ao colapso,” disse Doyle. “Esse massacre contínuo dos tribunais de imigração precisa parar.”

Outros ex-juízes compartilham da mesma preocupação, como Ila Deiss, que atuou por oito anos na Califórnia. Ela acredita ter sido alvo por conceder asilo com uma frequência maior do que a maioria dos outros juízes e por resistir a ordens sobre como decidir.

“De repente nos tornamos peças de xadrez políticas,” disse Deiss. “Recebemos recentemente instruções sobre como decidir moções.”

Pappas também afirmou ter sofrido pressão de instâncias superiores.

“Nossa Constituição exige que os indivíduos tenham um julgamento justo,” disse ele. “Este governo, este procurador-geral, transformou o Departamento de Justiça em um Departamento da Injustiça.”

O processo de admissão e período probatório para novos juízes de imigração pode durar até dois anos.

Além de Pappas, pelo menos mais um juiz do tribunal de Chelmsford foi demitido nas últimas duas semanas, segundo ele.

“Sim, fui pressionado, e sei que meu superior também sofreu pressão de instâncias superiores,” afirmou. “Fui instruído a conceder moções de arquivamento quando o ICE estava circulando pelos corredores.”

O Escritório Executivo para Revisão de Imigração do Departamento de Justiça recusou-se a comentar a matéria.

As demissões representam uma ameaça ao devido processo legal, segundo Matthew Biggs, presidente da Federação Internacional de Engenheiros Profissionais e Técnicos, o sindicato que representa alguns juízes de imigração.

“Os imigrantes indocumentados neste país têm direito ao devido processo e ao seu dia no tribunal diante de um juiz de imigração,” disse Biggs. “Se eles podem fazer isso com os trabalhadores indocumentados, podem fazer com qualquer um.”