Patrulha de fronteira prendeu Catalina Santiago, que tinha proteção temporária como Dreamer, em 3 de agosto
Catalina “Xochitl” Santiago já havia passado pela linha de segurança no aeroporto de El Paso quando dois agentes da patrulha de fronteira a chamaram para interrogatório e a levaram para um centro de detenção de imigração.
Quase um mês após sua prisão, ela e sua família ainda não sabem ao certo por que está detida. Santiago é beneficiária do programa Ação Diferida para Chegadas na Infância (Daca) – que lhe permitiu viver e trabalhar legalmente nos EUA.
“Eles não têm nenhuma base legal para detê-la, para mantê-la presa ou para tentar deportá-la”, disse sua esposa, Desiree Miller. As autoridades de imigração ainda não deram a ela ou à sua família respostas claras, acrescentou.
Desde sua prisão em 3 de agosto, o caso de Santiago tem alarmado defensores da imigração em todo os EUA, pois ilustra a crescente vulnerabilidade de centenas de milhares de jovens que chegaram ao país ainda crianças e receberam proteção temporária contra a deportação por meio do programa Daca, criado na era Obama.
Embora não tenham ocorrido mudanças regulatórias no programa, o governo tentou retirar benefícios de 525 mil beneficiários do Daca, também conhecidos como Dreamers. Em julho, Tricia McLaughlin, secretária assistente de imprensa do Departamento de Segurança Interna (DHS), afirmou, falsamente, que “o Daca não confere nenhum tipo de status legal neste país” e incentivou os beneficiários a se auto-deportarem.
No início deste mês, Javier Diaz Santana, um beneficiário do Daca surdo e mudo, foi detido durante uma operação no local de trabalho, e agentes confiscaram as ferramentas que ele usava para se comunicar. Jose Valdovinos, outro beneficiário, foi preso em frente a um posto de gasolina enquanto estava no banco do passageiro do carro de sua esposa.
“Não víamos isso antes”, disse José, irmão mais velho de Santiago – também beneficiário do Daca. “Foi muito rápido e muito agressivo.”
Nesta quarta-feira, Santiago deve comparecer a uma audiência perante um juiz de imigração – que decidirá se ela será libertada para voltar para casa ou se continuará detida.
Nas semanas desde a prisão de Santiago, ativistas organizaram vigílias em El Paso (Texas), Filadélfia (Pensilvânia), Grand Rapids (Michigan), Long Island, Boston, Tempe (Arizona) e Seattle para protestar contra a detenção da ativista de 28 anos pelos direitos dos imigrantes e organizadora comunitária.
Enquanto isso, autoridades de imigração disseram a Santiago e a seus advogados que queriam deportá-la porque ela teria entrado ilegalmente nos EUA. “Não fazia sentido”, disse Miller. Santiago havia chegado ao país com sua família quando tinha apenas oito anos de idade e pôde permanecer legalmente graças ao Daca.
O DHS afirmou que ela foi presa por acusações de “invasão, posse de entorpecentes e de parafernália de drogas”. Mas Santiago não havia sido condenada por nenhum crime, disse Miller – e seu histórico não a impediu de renovar o status do Daca sete vezes.
“O governo está transmitindo a mensagem de que está deportando criminosos e imigrantes ilegais. E usam todas essas palavras para tentar apagar o fato de que as pessoas detidas são humanas, que são membros de família”, disse Miller.
Santiago estava a caminho de Austin para participar de uma conferência sobre fazendas familiares e comunitárias quando foi presa. Miller, que trabalha ao lado de Santiago em uma organização comunitária local, havia pegado um voo mais cedo para o mesmo evento.
Miller ficou em choque quando Santiago enviou um vídeo trêmulo mostrando dois agentes da patrulha de fronteira a abordando no aeroporto, insistindo que ela desligasse o celular e os acompanhasse para responder perguntas sobre seus documentos de trabalho.
Depois disso, durante várias horas, Miller não teve notícias. “Eu mandava mensagens e ligava para ela.” Santiago já havia sido parada em aeroportos antes, então Miller esperava que o silêncio significasse que ela tinha embarcado no voo.
Algumas horas depois, Santiago conseguiu ligar para uma amiga de um centro de detenção. Miller voltou correndo para casa.
Nas semanas seguintes, Santiago contou à esposa e à família que não conseguia dormir porque as luzes no centro de detenção permaneciam acesas a noite toda e os guardas faziam barulho. Também achava difícil comer a comida servida e conseguir atendimento médico quando precisava.
José, o irmão de Santiago, disse que conseguia ouvir o cansaço em sua voz. “Mas eu sei que ela tem um espírito forte”, afirmou.
Miller disse que não conseguiu descansar. “É muito difícil para mim dormir, comer e fazer qualquer coisa aqui fora de forma tranquila, sabendo que ela não consegue dormir lá dentro”, contou. O casal se casou em janeiro – e, como Miller é cidadã americana, Santiago já estava considerando solicitar o green card em breve.
“É como a ameaça constante de que eles podem vir e levar alguém que você ama”, disse Miller.